quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Sétimo dia

Bom dia amigos, em fim chegou o grande dia, acordamos cedo, tomamos café, remédio para evitar o mal da altitude para dentro da goela, montamos as bagagens nas motos e bora para estrada que o dia promete bem na saída de Salta abastecemos e bora motokar, nesse dia o pessoal estava com pressa devido à quilometragem que tínhamos que rodar até chegar a San Pedro de Atacama, no caminho por ser deserto não tem nenhuma infraestrutura, ficar preso no Paso Jama até o anoitecer seria algo muito ruim e poderíamos ter problemas sérios inclusive amputação de membros ou até risco de morte, teremos que parar bastante vezes para tirar fotos, não sabemos como iremos nos comportar na altitude, cada organismo reage de uma forma, e ainda tem a preocupação de como as motos iriam se comportar e com a falta de combustível, toda essa preocupação dava um tom especial a Expedição Conhecer, eu me sentia realmente especial, fazendo algo que poucos se dispõe a fazer, mas não posso negar que o medo também me acompanhava, nossa ideia era abastecer em Pumamarca, não achamos gasolina nessa cidade e tocamos até Tilcara, saímos de nosso planejamento e aumentamos 60 km em nosso dia, motos abastecidas bora motokar, entrando na Ruta 52 as montanhas que misturam cor verde, laranja, vermelho e outras milhões de cores que nossos olhos são incapaz de reconhecer já dava um toque todo especial, rodamos alguns km e começaram as curvas da Cuesta de Lipan, uma série de curvas com o formato de cotovelo, ao mesmo tempo em que contornávamos essas curvas a altitude aumentava, e consecutivamente o frio e o vento, no final das Curvas de Lipan tem um mirante onde tiramos algumas fotos, e seguimos viagem, os cotovelos deram lugar às retas e curvas mais abertas, mesmo com sol, o frio aumentava em todos os km, o vento já me fazia andar com a moto de lado, de repente saindo de uma curva avisto Salinas Grande, o terceiro maior Salar do mundo, para vocês imaginarem, pense em um deserto e no lugar de areia, sal, lugar realmente maravilhoso, além do sal também é extraído o Lítio, o Luiz entrou com sua moto no Salar e tomou um rola, nada sério, continuando nosso trajeto, pouco à frente e novamente as curvas viram cotovelos, com tanto vento e altitude minha moto começa a perder velocidade, passado alguns km, achamos um oásis no deserto, chegamos em Susques onde tem um posto de gasolina bem simples que lembra aqueles postos da rota 66 americana, tem também um restaurante, onde comprei mais água, o remédio para o mal da altitude e o sol do deserto retira todo o liquido do seu corpo e toda água que você puder tomar é bem vinda, nessa parada conhecemos uns irmãos motociclistas do Rio Grande do Sul que também estavam indo ao Atacama, aproveitei enchi o tanque da moto e o galão reserva e continuamos nossa viagem, passado alguns bons km, chegamos na aduana Argentina – Chile, ainda do lado argentino tem o Ultimo posto um YPF ao lado da Aduana, onde completei o tanque, o próximo só em San Pedro do Atacama, porém esse posto em San Pedro costuma ficar sem gasolina, reencontramos os Gaúchos na aduana e também encontramos outro grupo que estavam em uma Vespa e uma Shadow 600 cheios de bagagens, até violão eles estavam levando, entramos na aduana, um guichê faz a saída da Argentina, e três ou quatro etapas faz a entrada no Chile, no Chile tem um pouco mais de papelada para preencher, após tudo preenchido e documentos apresentados tivemos que aguardar um oficial que verifica moto por moto e faz algumas perguntas, às vezes abre as bagagens, no meu caso o oficial fez uma piada eu perguntei se deveria abrir a mala e ele perguntou se eu estava transportando uma mulher Argentina dentro da mala eu respondi que não e ele disse boa viagem, sorriso no rosto e simpatia abrem portas, podem ter certeza, detalhe importante na aduana dão um papel retangular branco, cuide bem dele e deixe à mão pois 30 metros para frente outro oficial vai solicitar esse papel, além desse você recebe mais dois papeis, esses dois você deve cuidar como se fosse seu filho, pois sem ele sua moto não sai do Chile, mas só vai ser solicitado quando for sair do país, chega de dica, vamos para estrada, logo à frente aquela famosa placa indicando a divisa de país, e bem vindo ao Chile, fotos e bora acelerar, em minha santa ingenuidade achava que o pior já tinha passado, enganado mais uma vez, continuava a subir, vento, e sobe mais, curva e mais vento, andei com a moto de lado o dia todo, mas pera ai, agora além de andar de lado a moto esta sendo arremessada para as laterais da pista ora para um lado, ora para o outro, que coisa de louco, honestamente e sem exagero só não parei a moto por medo de o vento mandar a moto e eu para longe, por alguns instantes o medo tomou conta de mim, reduzi uma marcha acelerei tudo que podia e a moto a 110 km por hora, não passava disso, jogava uma marcha para cima, à velocidade continuava a mesma, porém a moto ficava mais instável, a altitude continuava aumentando, o frio e o vento também, meus dedos já doíam de tanto frio, liguei o aquecedor de manopla da moto, ela aquecia as palmas das mãos, mas a ponta dos dedos que continuavam geladas e doendo, tenho um gps que marca a altitude do lugar onde estou e aqui quero tentar explicar uma coisa que não entendi, risadas a parte, creio eu que por ser país diferente, na Argentina tinha um marco com a altitude de 4170 metros sobre o nível do mar, onde pensei que era a parte mais alta que iriamos passar, mas nessa parte que quase sai voando com moto e tudo meu gps registrou no ponto mais alto a altitude de 4830 metros, chegou ao ponto em algumas curvas para o lado direito sem guard rail que fiquei com medo de o vento me jogar no abismo, mas essa sensação logo passou, senti a presença de Deus do meu lado, me tranquilizando, uma energia tão forte, que eu sou incapaz de explicar, quem já passou por algo parecido vai entender, essa energia me acompanhou em muitos momentos da viagem, ao mesmo tempo em que pensava em minha família e que poderia não voltar para casa, se fosse realmente partir eu iria em paz naquele momento, eu estava pronto para o que iria vir seja o que fosse, e dentro do meu capacete me contestava, se eu morresse ali se teria valido a pena e naquele momento eu tive a certeza que estava disposto a morrer por essa viagem,  creio que são esses momentos que fazem o viajante mudar algumas coisas em sua vida, todos esses momentos eu estava rodando sozinho, minha moto não conseguia acompanhar as outras, nesse momento minha moto não passava dos 80 km por hora, rodados mais alguns bons km, comecei a descer, acompanhava no gps a cada 10 metros que descia, encontrei novamente com o pessoal que ia na frente, e logo estávamos na saída para a Bolívia, quando você avistar a placa de saída para a Bolívia saiba que a altitude acabou, e agora descemos alguns mil metros em questão de aproximadamente meia hora, a temperatura aumentou, o vento amenizou e logo estávamos em San Pedro de Atacama, o pessoal da Expedição Atacama 2015 tinha reserva em um Hostel, colocamos as motos dentro do estacionamento e fui perguntar se tinha vaga  para mais uma pessoa, eu, e para minha surpresa, não tinha, só tinha para o próximo dia, larguei a moto no estacionamento do Hostel, sai andando na cidade, entrei em vários Hostels e encontrei vaga para essa noite, ufa, não estou na rua, voltei ao hostel peguei a moto levei para o outro, fiz o check in, tomei banho, lavei algumas roupas durante o banho e  fui até o hostel onde estavam os outros e lá conheci um gaúcho e um Potiguar que foram até o Peru e estavam voltando ao Brasil, o Gaúcho se juntou a nós e fomos para o centro de San Pedro de Atacama, conhecemos o centro, reencontramos os Gaúchos que conhecemos em Susques e o motociclista que estava viajando de vespa, cambiamos alguns pesos, jantamos e fechamos alguns passeios para os próximos dias, para nossa surpresa o primeiro passeio era para os Geisers del Tatio e iriamos sair do Hostel as 5:00, então, vamos dormir que amanhã tem mais... continua...













Um comentário:

  1. Quero agradecer pelo relato compartilhado esta me ajudando muito. Parabens

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